terça-feira, 22 de junho de 2010

“ As Portas da Percepção” de Aldous Huxley

As imagens do mundo arquetípico são simbólicas, mas uma vez que enquanto indivíduos não somos nós que as fabricamos, descobrindo-as “lá” fora, no inconsciente colectivo, apresentam pelo menos algumas características da realidade imediata e são coloridas. Os habitantes não simbólicos dos antípodas da mente existem por direito próprio e são coloridos como os factos reais do mundo exterior. Na verdade são muito mais intensamente coloridos que os dados externos. Isto pode explicar-se pelo menos em parte pelo facto das nossas percepções do mundo exterior estarem habitualmente encobertas pelas noções verbais nos termos das quais o nosso pensamento se processa. Estamos continuamente a tentar converter coisas em signos que representam as abstracções mais inteligíveis da nossa própria inventiva, mas ao fazê-lo roubamos-lhes uma grande parte da sua coisidade inata.
Nos antípodas da mente estamos mais ou menos completamente livres da linguagem, fora do sistema conceptual. Consequentemente, a nossa percepção dos objectos visionários possui toda a frescura, toda a intensidade nua das experiências que nunca foram verbalizadas, que nunca foram assimiladas a abstracções sem vida. A sua cor (esse traço distintivo da sua qualidade real) irradia um brilho que nos parece preternatural por ser de facto completamente natural – completamente natural no sentido de completamente inadulterado pela linguagem ou pelas noções cientificas, filosóficas e utilitárias através das quais normalmente recriamos o mundo real à nossa própria imagem desoladoramente humana.

Excerto do livro “ As Portas da Percepção” de Aldous Huxley

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